terça-feira, 28 de abril de 2009

CAPA DE TRIBUNA EPISODIO II

Rafael Tavares - Diretor de Redação TribunaExiste paixão mais irracional que a de torcedor por um time de futebol? Difícil. Enquanto na Europa e Estados Unidos fala-se de negócio, consumidores, business, royalties, por aqui ainda se respira idolatria, canta-se o amor à camisa, extrapola-se com o suor de uma comemoração ou uma lágrima, a borrar o coração pintado no rosto, com as cores do time. O negócio que mais vale é o que corre nas veias, acelera o batimento cardíaco, faz gelar a ponta dos dedos. Com um toque de racionalidade, então, tudo isso fica especial.A primeira página da nossa edição de ontem causou furor, revolta, indignação e, ao mesmo tempo, alegria, gozação, satisfação. Os dois lados de uma rivalidade quase centenária afloraram após um Atletiba espetacular. Há muito tempo Coritiba e Atlético não faziam um embate tão emocionante, com a felicidade mudando de mãos várias vezes em 90 minutos.Por fim, venceu o verde-e-branco. Com galhardia, 4 a 2 na casa do adversário. Grande decepção para a torcida rubro-negra, que foi para o estádio sorvendo o gostinho de título, de vitória. Até mesmo a página oficial do clube na internet foi atropelada pela empolgação, ao estampar, antes mesmo do início do clássico, notícia de que a taça já tinha dono. Ataque de hackers, segundo nota oficial. Fio de meada que proporcionou motivante discurso do lépido René Simões, no vestiário da Arena.Foram seis gols, dois deles de pênalti. Vários cartões amarelos, 22 mil apaixonados torcedores berrando. O Netinho que não jogou nada. Os “Júlios” que não deviam nem ter entrado. O Geninho que escalou errado. O René que é pé quente. E o que mais? Tudo o que se possa dizer, caro leitor.
No futebol, todo mundo tem razão. Inclusive os que acharam que a nossa capa foi pejorativa, que aqui só tem coxa-branca, que a gente não respeita ninguém. Sem contar as várias ameaças de boicote, promessas de nunca mais comprar o jornal. Sim, foram dezenas os e-mails incitando esta corrente. Muitos deles provenientes do mesmo IP, mas o que vale é a intenção. E, fomentada, a indignação prosperou. Não há de se dizer que sem razão, pois a interpretação é livre.A edição desta primeira página, em especial, foi mais demorada que o de costume. Após o jogo, várias possibilidades foram estudadas, à medida que o material, especialmente fotográfico, foi chegando. Quando a imagem do jogador Júlio César apareceu, daquela forma, sem qualquer tipo de montagem, a manchete do jornal já estava até definida. Mas não há como negar que a imagem escolhida traduzia o jogo. Não o atleta, mas o Atlético, daquela forma, vestindo um jogador que há tempos vem sendo verborragicamente criticado por muitos dos autores das mensagens que chegaram à Redação. Sim, o Atlético perdeu de 4. No placar, duelando bravamente em campo.E foi este o intento da capa. Resumir na imagem captada o resultado de um jogo surpreendente, sem macular a imagem de quem quer que seja, ferir paixões ou invocar o ódio de torcedores e leitores. Pois o vermelho da Tribuna, que já foi azul, não tem cor para o nosso futebol. Não há credo em cada linha escrita por nossos repórteres.Nossa missão editorial é apoiar o futebol paranaense, seja acompanhando Coritiba, Atlético, Paraná, Londrina, J.Malucelli ou qualquer outro clube que desponte nos gramados brasileiros. Nossa torcida é por todos, bem como nosso respeito. A polêmica, temperada pela paixão, por vezes inconseqüente, de cada torcedor, jamais deixará de existir. Mas nunca com o objetivo de ferir, denegrir ou macular.
Torcemos para que estes mesmos leitores que ontem passaram o dia externando sua repulsa, amanhã estejam comemorando algo. Uma vitória. Várias! Outras taças. A Tribuna continuará firme, destacando, criticando, elogiando. Pois, contar com cada leitor como você, é um privilégio que se conquista com o tempo, com várias capas, não apenas uma. Notícias boas e ruins também. Primeiras páginas com faixas de campeão, como as várias que já fizemos ao longo de 53 anos. Pois o futebol também é nossa paixão.

Fraterno abraço.

Rafael Tavares
Diretor de Redação Tribuna

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